O desenvolvimento de um novo medicamento custa US$ 1 bilhão. As pesquisas podem levar mais de dez anos de trabalho. E de cada oito mil moléculas estudadas, apenas uma vira remédio de fato. Definitivamente, esse é um negócio para potências corporativas com faturamento de muitos zeros à direita, certo? Bom, algo está mudando na indústria farmacêutica mundial. Há gente disposta a comer pelas beiradas, trabalhar de forma independente e, quem sabe, tirar a sorte grande ao encontrar a pílula da fortuna. A investida mais recente partiu de cientistas da Universidade de Bristol e do King?s College, ambas da Inglaterra. Em agosto, eles começam a testar a primeira vacina contra diabetes tipo 1 já desenvolvida. A idéia é submeter 72 pacientes ao processo, que já funcionou bem em ratos.
Inicialmente, a imprensa noticiou que o projeto tinha o dedo da Clinalfa, subsidiária da alemã Merck. Mas a companhia nega a participação na empreitada. Ficar fora dela, porém, pode se mostrar um erro no futuro. Além do diabetes ser uma das cinco maiores classes terapêuticas no mundo, a doença apresentou grandes taxas de crescimento até o início dos anos 2000.
Agora é a vez dos valores aumentarem, pois as novas drogas que chegam ao mercado são cada vez mais caras. ? No mundo todo, cerca de 32 milhões de pessoas compram remédios contra diabetes nas drogarias (e ainda existem as compras governamentais)? Uma das empresa forte neste segmento e a dinamarquesa Novo Nordisk no Brasil, uma das maiores do segmento, com faturamento de US$ 4,4 bilhões anuais.
Mas a iniciativa dos cientistas ingleses não caiu como uma bomba no mercado só por se tratar de um altíssimo vôo solo. É que, de certa maneira, eles chamaram a atenção para um ramo farmacêutico para lá de promissor, mas pouco explorado. Atualmente, o mercado de diabetes de todos os tipos movimenta US$ 15,3 bilhões no planeta e acomete 150 milhões de pessoas. Desse total, perto de 35% utilizam a insulina. O resto usa medicamentos via oral. No Brasil, o mercado movimenta US$ 120 milhões. São 700 mil brasileiros portadores da diabetes tipo 1, mas não se sabe ao certo quantos seriam potenciais consumidores da vacina. Isso porque os cientistas ingleses já conhecem as limitações do produto. Ele só poderá ser usado por pessoas que já tenham casos de diabetes na família, ou se a doença for diagnosticada bem no início. E o motivo é simples. Em tese, a vacina encorajaria a produção de células protetoras do pâncreas, o órgão responsável pela produção de insulina, substância necessária no processamento do açúcar no corpo. Quem já sofre do problema há anos tem o pâncreas debilitado demais e isso tornaria a vacina inócua. A palavra final sairá em cinco anos, quando a droga estará pronta para virar uma poderosa fonte de receita para seus inventores. Resta saber se até lá algum grande laboratório não encampará as pesquisas inglesas.